quarta-feira, 24 de junho de 2020

CONTO POPULAR O CASO DO ESPELHO VAMOS RIR!

     

   O CASO DO ESPELHO



Era um homem que não sabia quase nada. Morava longe, numa casinha de sapé esquecida nos cafundós da mata.
Um dia, precisando ir à cidade, passou em frente a uma loja e viu um espelho pendurado do lado de fora.
 O homem abriu a boca. Apertou os olhos.
 Depois gritou, com o espelho nas mãos:
 - Mas o que é que o retrato de meu pai está fazendo aqui?
- Isso é um espelho - explicou o dono da loja.
 - Não sei se é espelho ou se não é, só sei que é o retrato do meu pai.
 Os olhos do homem ficaram molhados.
- O senhor... conheceu meu pai? - perguntou ele ao comerciante.
 O dono da loja sorriu. Explicou de novo.
 Aquilo era só um espelho comum, desses de vidro e moldura de madeira.
 - É não! - respondeu o outro. - Isso é o retrato do meu pai. É ele, sim! Olha o rosto dele. Olha a testa. E o cabelo? E o nariz? E aquele sorriso meio sem jeito?
 O homem quis saber o preço.
 O comerciante sacudiu os ombros e vendeu o espelho, baratinho Naquele dia, o homem que não sabia quase nada entrou em casa todo contente.
 Guardou, cuidadoso, o espelho embrulhado na gaveta da penteadeira.
 A mulher ficou só olhando.
 No outro dia, esperou o marido sair para trabalhar e correu para o quarto.
 Abrindo a gaveta da penteadeira, desembrulhou o espelho, olhou e deu um passo atrás.
 Fez o sinal da cruz tapando a boca com as mãos.
Em seguida, guardou o espelho na gaveta e saiu chorando.
 - Ah, meu Deus! - gritava ela desnorteada.
 - É o retrato de outra mulher! Meu marido não gosta mais de mim!
 A outra é linda demais! Que olhos bonitos! Que cabeleira solta!
 Que pele macia! A diaba é mil vezes mais bonita e mais moça do que eu!
 - Quando o homem voltou, no fim do dia, achou a casa toda desarrumada. A mulher, chorando sentada no chão, não tinha feito nem a comida.
- Que foi isso, mulher?
- Ah, seu traidor de uma figa! Quem é aquela jararaca lá no retrato?
- Que retrato? - perguntou o marido, surpreso.
 - Aquele mesmo que você escondeu na gaveta da penteadeira!
O homem não estava entendendo nada.
- Mas aquilo é o retrato do meu pai! Indignada, a mulher colocou as mãos no peito:
 - Cachorro sem-vergonha, miserável! Pensa que eu não sei a diferença  entre um velho lazarento e uma jabiraca safada e horrorosa?
 A discussão fervia feito água na chaleira.
 - Velho lazarento coisa nenhuma! - gritou o homem, ofendido.
 A mãe da moça morava perto, escutou a gritaria e veio ver o que estava acontecendo.
 Encontrou a filha chorando feito criança que se perdeu e não consegue mais voltar pra casa.
- Que é isso, menina? - Aquele cafajeste arranjou outra!
- Ela ficou maluca - berrou o homem, de cara amarrada.
 - Ontem eu vi ele escondendo um pacote na gaveta lá do quarto, mãe!
  Hoje, depois que ele saiu, fui ver o que era. Tá lá!
 É o retrato de outra mulher!
A boa senhora resolveu, ela mesma, verificar o tal retrato.
 Entrando no quarto, abriu a gaveta, desembrulhou o pacote e espiou.
 Arregalou os olhos. Olhou de novo. Soltou uma sonora gargalhada.
- Só se for o retrato da bisavó dele!
 A tal fulana é a coisa mais enrugada, feia, velha, cacarenta, murcha, arruinada, desengonçada, capenga, careca, caduca, torta e desdentada que eu já vi até hoje!
 E completou, feliz, abraçando a filha:
- Fica tranquila. A bruaca do retrato já está com os dois pés na cova!
 Conto popular recontado por Ricardo Azevedo, ilustrado por Alarcão

Nenhum comentário:

Postar um comentário